domingo, 26 de fevereiro de 2017

CREPÚSCULO

Num tempo não muito distante, o sol embriagado com sua própria luz, descamba desolado para o outro lado da terra e finge morrer no oposto do berço que o viu nascer - um lugar longe do horizonte e muito abaixo da nuvem branca que embaça o firmamento de um infinito azul.

O som dolente do berrante que embarcou na corrente de vento favorável e apeou na curva da estrada a muitos quilômetros distantes, fere o ouvido do carreiro, homem da roça - rústico e valente. E este, ao contrario de outras pessoas, sente não apenas o som rouco e abafado do instrumento de comunicação do boiadeiro. Para o homem que vive, convive e entende a linguagem do boi, animal que suporta a canga e arrasta o carro - longe de ser uma linguagem musical de comunicação - o som rouco e abafado do berrante, mais parece um gemido que penetra a alma de alguém que agoniza com o corpo ferido com espinho da caatinga, fácil de penetrar o corpo, mas para ser extraído rasga a pele para aumentar o sofrimento do sertanejo.

Crepúsculo, mudança do dia para a noite, é uma angustiante fase do tempo que oprime a alma de qualquer ser humano e com mais força e intensidade, a do homem sofrido mas conformado do campo.

Dúvida terrível! - Sonho ou realidade?

Não sei se este fato seria na imaginação um real e fantástico espetáculo de pôr do sol. Ou o crepúsculo seria, então, o verdadeiro espectro de sofrimento? Em verdade, agora percebo o crepúsculo como um tempo de conflito, o fim melancólico da própria vida!

(24/02/2017 – Perwal)

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Cheguei!
Acabo de desatar a fita de conclusão de parte da jornada. Encaminho-me ao pódio, aonde pretendo, do alto do pedestal, anunciar em som forte e vibrante, que estou a celebrar oitenta e seis anos.
Feliz!
Porque o pulso ainda pulsa e o coração de menino sem juízo ainda bate forte e descompassado, no ritmo daqueles que se apaixonam pela vida.
Celebração!
Sim, já não vivo. Estou a celebrar a vida sem nenhum arrependimento dos caminhos que escolhi para seguir; os amigos que amealhei no curso da jornada e as tarefas que me foram impostas nesta árdua e dignificante competição.
Horizontes!
Descobri que a pobreza não é virtude, mas, sim, virtude é vencer a pobreza com dignidade cristã. Agora, não posso parar! Retomarei o curso da jornada, sonhando sempre em busca de um horizonte sem fim.
É o que temos para hoje! (perwal)