terça-feira, 4 de dezembro de 2018


CREPÚSCULO

Num tempo não muito distante, o sol embriagado com sua própria luz, descamba desolado para o outro lado da terra e finge morrer no oposto do berço que o viu nascer - um lugar longe do horizonte e muito abaixo da nuvem branca que embaça o firmamento de um infinito azul.

O som dolente do berrante que embarcou na corrente de vento favorável e apeou na curva da estrada a muitos quilômetros distantes, fere o ouvido do carreiro, homem da roça - rústico e valente. E este, ao contrario de outras pessoas, sente não apenas o som rouco e abafado do instrumento de comunicação do boiadeiro. Para o homem que vive, convive e entende a linguagem do boi, animal que suporta a canga e arrasta o carro - longe de ser uma linguagem musical de comunicação - o som rouco e abafado do berrante, mais parece um gemido que penetra a alma de alguém que agoniza com o corpo ferido com espinho da caatinga, fácil de penetrar o corpo, mas para ser extraído rasga a pele para aumentar o sofrimento do sertanejo.

Crepúsculo, mudança do dia para a noite, é uma angustiante fase do tempo que oprime a alma de qualquer ser humano e com mais força e intensidade, a do homem sofrido, mas conformado do campo.  Dúvida terrível:  sonho ou realidade?

Não sei se este fato seria na imaginação um real e fantástico espetáculo de pôr do sol. Ou seria o crepúsculo, então, o verdadeiro espectro de sofrimento?
Agora, em verdade, percebo o crepúsculo como um tempo de conflito, o fim melancólico da própria vida!   
                                              (perwal)