CREPÚSCULO
Num
tempo não muito distante, o sol embriagado com sua própria luz, descamba
desolado para o outro lado da terra e finge morrer no oposto do berço que o viu
nascer - um lugar longe do horizonte e muito abaixo da nuvem branca que embaça
o firmamento de um infinito azul.
O
som dolente do berrante que embarcou na corrente de vento favorável e apeou na
curva da estrada a muitos quilômetros distantes, fere o ouvido do carreiro,
homem da roça - rústico e valente. E este, ao contrario de outras pessoas,
sente não apenas o som rouco e abafado do instrumento de comunicação do
boiadeiro. Para o homem que vive, convive e entende a linguagem do boi, animal
que suporta a canga e arrasta o carro - longe de ser uma linguagem musical de
comunicação - o som rouco e abafado do berrante, mais parece um gemido que
penetra a alma de alguém que agoniza com o corpo ferido com espinho da
caatinga, fácil de penetrar o corpo, mas para ser extraído rasga a pele para
aumentar o sofrimento do sertanejo.
Crepúsculo,
mudança do dia para a noite, é uma angustiante fase do tempo que oprime a alma
de qualquer ser humano e com mais força e intensidade, a do homem sofrido, mas
conformado do campo. Dúvida terrível: sonho ou realidade?
Não
sei se este fato seria na imaginação um real e fantástico espetáculo de pôr do
sol. Ou seria o crepúsculo, então, o verdadeiro espectro de sofrimento?
Agora,
em verdade, percebo o crepúsculo como um tempo de conflito, o fim melancólico
da própria vida!
(perwal)
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